A mesa estendia-se imensa por todo o cômodo com todas as suas cadeiras ocupadas, mas Lucy estava sentindo-se sozinha, vazia. Era o aniversário de sua velha amiga e fora animada, achando que seria um simples jantar com amigas conhecidas. Mas era uma estranha ali.
Do outro lado da mesa de madeira, um garoto de mais ou menos treze anos espirrava sem parar, dizendo que odiava o nariz e dando indiretas para o pai sentado ao lado, este, nada se interessava no filho, a tia do garoto ria sem parar segurando um copo de cerveja que nunca se esvaziava por completo, outras tias e tios discutiam sobre assuntos políticos e mais outras pessoas discutiam sobre horários de televisão. Lucy tentava se socializar com as pessoas que não a conheciam, mas na maior parte do tempo, seu sorriso carinhoso desfazia-se quando alguém a ignorava ou não dava a atenção devida. Nem sua amiga conversava com ela direito. As muralhas da sociedade se fecharam para ela naquele momento. Observou novamente o garoto que espirrava. O pai dele dizia que era culpa do ventilador, e o menino ignorava, jogando um jogo de nave espacial no celular moderno do pai. Então Lucy pediu para a pessoa mais próxima desligar o ventilador que tanto incomodava o garoto, mas ela foi novamente ignorada, pois todos discordaram da sua opinião, até mesmo o garoto.
Garoto, você devia prestar atenção nele pensava a idosa. Sorriu para o garoto, tentando demonstrar os pensamentos com o olhar. Talvez tenha conseguido, ou não, o fato era que o garoto parou de jogar e respondeu as perguntas do pai com simpatia. Sentia-se vitoriosa, mesmo que ainda estranha e solitária.
Enfim, Lucy, o garoto e todos os outros se foram. Já era tarde da noite, todos tinham compromisso pela manhã do outro dia. Mas antes de sair, o garoto que tanto espirrava olhou para ela e acenou positivamente, sorrindo de volta. Aquilo abriu os portões da muralha.